domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rio eterno



Já ouviste um ébrio canto,
Que te fez flutuar em pensamentos distantes?
Isso que no tempo chamas memória,
E que nos sentidos te traz imagens longínquas?

Sente então o tempo correr em tuas artérias,
E sente o calor da saudade arder em teu peito.
Pois não foram em vão as eras vividas,
Se tiveres como premio a eternidade.

Sente a imortal chama que queima,
Sente o ardente fogo que te consome.
E o infinito passar do rio.
Sendo tu uma nau que segue a diante.

Sendo levado pelo forte vento,
Sente a incapacidade de voltar,
E sabe que há apenas uma forma de retroceder,
Sabe então que a única forma é lembrar.

Cleison Melo

Tormenta

Vára a tormenta de granizo e lama
Que te vergasta a noite escura e fria,
E, erguendo em prece a taça da agonia,
Sorve gemendo o fel que se derrama.

De alma cansada e pensamento em chama,
Ouve em silêncio a enorme gritaria
Da turba que te fere e calunia
Descendo para a treva que a reclama.

De peito aberto por sinistras lanças,
Sob as pedras e farpas em que avanças,
Bendize a senda estreita e atormentada!...

Chora, mas segue alçando a luz sublime,
Que, além da sombra que te envolve e oprime,
Fulgura o céu de nova madrugada...

psicografia de Xico Xavier

Caminhante

Caminhante, não há caminho,
O caminho é feito ao andar.
Ao andar se faz o caminho
E ao olhar para traz,
Se ver a senda que nunca
Se vai voltar a trilhar.
Caminhante não há caminho,
Somente rastros no mar.

Antonio Machado